
Foi no dia 21 de Junho (no primeiro dia de Verão) pelas 21H que, mais uma vez, António Rosado encantou e acalentou os ânimos estivais.
Já nos habitou mal, bem, a esta presença forte e profunda que empenha em palco arrasando todas as possíveis dúvidas sobre o seu virtuosismo.
Desde há muitos anos que oiço o seu nome entoado pelos corredores das escolas de Música onde estudei. Mas de cada vez que consigo vê-lo em palco, no seu mundo, fico abismada.
Para mim, é sem qualquer dúvida o melhor pianista nacional da actualidade. Não só pelo rigor técnico e dinâmica de interpretação mas pela facilidade com que se envolve com a audiência como que criando uma cumplicidade entre o público e o seu esforço a sua maravilhosa capacidade artística. Acontece-me sempre não conseguir fechar os olhos quando escuto os seus concertos. Tenho que os abrir! Porque o seu movimento corporal, a sua expressão facial tudo isso faz parte da interpretação. O movimento dos dedos em simultâneo com estes factores são para ser observados, fazem parte da música. Por isso, não posso fechar os olhos pois estaria a perder parte da “obra de arte”.
Neste concerto, como não podia deixar de ser, o programa escolhido foi apropriado ao local e de muito bom gosto:
Claude Debussy
1º caderno dos Livros de Prelúdios
Danseuses de Delphes
Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir
Les collines d’Anacapri
Le vent dans la pluie
Des pas sur la neige
Ce qu’a vu le vent de l’Ouest
La fille au cheveux de lin
La sérénade interrompue
La cathédrale engloutie
La danse de Puck
Minstrels
Franz Liszt
Na primeira parte, António Rosado, entrou como que "a medo" tendo depois como que "desabrochado" após o terceiro prelúdio e aí sim demonstrando de novo a sua elevada qualidade. Mais uma vez "La fille au cheveux de lin" deixou-nos sonhar com uma planície serena por onde as vagas searas ondulam e aí sim pudemos fechar um pouco os olhos. Mas o prelúdio que devo devidamente enaltecer é sem dúvida La cathédrale engloutie - majestoso, sublime!
Sem pedal a mais, extremamente bem timbrado com uma melodia magnifica nos 4º e 5º dedos, Rosado deu-nos mais uma vez um Debussy impressionista e bem caracterizado.
Em relação à 2ª parte do concerto a nota máxima vai sem dúvida para a Balada em si m. Num ambiente mais romântico e virtuoso, típico de Liszt, Rosado mostrou uma interpretação poderosa e rápida, bem a seu gosto.
Como não poderia deixar de ser, ainda nos brindou com dois encore's onde brilhou, a meu ver, na interpretação de Chopin criando um degradé de sons enviezados por uma dinâmica muito apropriada a Chopin.
Magnifique Monsieur Rosado, Magnifique!
Biografia António Rosado (Gulbenkian) em:
http://www.musica.gulbenkian.pt/?cgi-bin/wnp_db_dynamic_record.pl?dn=db_musica_biographies_pt&sn=musica&orn=17